Ontem, ao acordar, me veio à cabeça que 12 de outubro, o Dia das crianças está chegando. Os pensamentos vão se ligando e ao pensar nesse dia, eu, que tenho o hábito de associar eventos e acontecimentos à músicas, lembrei-me imediatamente de uma música do grande poeta e músico, o querido Gonzaguinha, ou melhor eu me recordei da letra, que é um poema: “Ontem o menino que brincava me falou... que o hoje é semente do amanhã... para não ter medo que esse tempo vai passar... não se desespere não, nem pare de sonhar... Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs... Deixe a luz do sol entrar no céu do seu olhar... Fé na vida, fé no homem, fé no que virá... Nós podemos muito, nós podemos mais... Vamos lá fazer o que será! Refleti sobre o significado dessa letra, que mais que um poema é uma mensagem de fé, mas é ainda muito mais que isso. É um convite para pararmos e pensarmos no que podemos aprender com nossas crianças. Sempre se fala nos desafios que os pais enfrentam para educar uma criança e da necessidade de ensinar amor e limites de forma equilibrada e usando o bom senso. Infelizmente muitos pais ainda confundem ensinar limites com despejar sobre os filhos seus medos, suas frustrações, suas próprias limitações, e assim contribuem para criar nessas crianças crenças limitantes que poderão mais tarde torná-las adultos medrosos e incapazes, com medo de ousar, medo do novo, medo da vida, medo de lutar, medo de vencer, medo de mudar. Isso aconteceu com muitos de nós em nossa educação, e acontece conosco em relação à educação de nossos filhos, mas não nos ajuda em nada culparmos nossos pais, ao contrário: O melhor a fazer é pensar que eles estavam fazendo o melhor que podiam com aquilo que aprenderam com os seus pais. E também não devemos nos culpar, pois da mesma forma, fazemos com nossos filhos o melhor que podemos com o que aprendemos de nossos pais. Entretanto, conscientes dessa realidade, nós podemos modificá-la de um jeito muito simples: Parar para aprender com as crianças. Ou melhor, reaprender, relembrar... por que nós já fomos crianças um dia e já pensamos e vivemos olhando o mundo com olhos de criança. Esse sim, é um convite ao novo, aprendermos com aqueles a quem temos a responsabilidade de educar. E elas, as crianças têm muito a nos ensinar! Há uma lista enorme de atitudes que podemos aprender e lembrar novamente apenas observando o seu comportamento: Crianças demonstram confiança e autoconfiança / Crianças têm fé / Crianças acreditam nos seus sonhos e sabem brincar de sonhar / Crianças brincam, sabem brincar e levam a sério a hora de brincar /Crianças gostam e confiam nas outras crianças /Crianças confiam nos adultos /Crianças se contentam com pouco /Crianças são sinceras /Crianças abraçam com carinho sincero /Crianças não abraçam quando não têm vontade /Crianças sabem dizer não / Crianças riem abertamente e dão grandes risadas / Crianças choram quando têm vontade e não têm vergonha de suas lágrimas / Crianças sabem expressar gratidão e são muito gratas pela atenção dada a elas / Crianças têm excelente autoestima / Crianças possuem sentimentos puros / Crianças sabem amar e não têm medo de amar / Crianças são felizes.
No dia das crianças vamos aproveitar para resgatar as crianças que já fomos e que na maioria das pessoas se perderam lá no fundinho das lembranças. Alguns nem se lembram! A vida de adulto, as responsabilidades, os compromissos, o medo da opinião alheia e outras crenças limitantes podem sufocar em nós as crianças que um dia já fomos. E com isso perdemos grande parte de nossa alegria, motivação e entusiasmo pela vida. Quem não quer voltar a ter aqueles olhos brilhantes e aquela emoções puras que só as crianças sabem ter? E por que não? É só buscar de novo aqueles sentimentos em nós, sem medo de sermos felizes e sem medo do que os outros irão pensar. Quando se diz que um adulto é infantil, o termo torna-se pejorativo e sinônimo de irresponsável, mas ser infantil pode ser apenas um resgate da alegria, sem se perder a responsabilidade de adulto.
Eu tenho um texto poético que um dia escrevi sobre a criança que tenho em mim e que procuro resgatar todas as vezes em que me encontro triste ou desmotivada. É a essa criança que eu recorro, que infalivelmente me dá a mão e me mostra mais uma vez os caminhos da felicidade. É ela, a minha criança, a que já fui e sempre serei, que me faz rir e amar sem medo. E lembrando dessa menina, eu escrevi: “ Eu fui uma criança que junto com irmãos e amigos escalava telhados, corria por sobre muros, brincava de trapezista em galhos de árvores, tomava banho na caixa d’agua... Perdão a quem tomou a água, éramos apenas crianças... felizes, inocentes, vivendo o momento... Quem compartilhou comigo, lembra... Traumas? Nenhum... Arranhões? Alguns... Lembranças? Muitas e felizes... Aprendizado? Guardei dentro de mim uma criança que sempre me acompanha e me faz ver o mundo com mais alegria e esperança. Hoje e todos os dias para mim é dia de ser criança...”
Márcia Palis 12/10/2012